Você já se perguntou como uma criança faz terapia? Será que ela consegue falar sobre o que sente como os adultos? A resposta é: nem sempre com palavras — mas quase sempre com o brincar.

A terapia infantil é um espaço acolhedor onde a criança pode se expressar de forma segura, no seu próprio ritmo. Terapeutas que usam uma abordagem chamada ludoterapia não-diretiva, encontraram no brincar o principal caminho de comunicação.

É por meio dos desenhos, dos jogos simbólicos, das brincadeiras e das histórias inventadas que a criança fala sobre seus medos, tristezas, dúvidas, alegrias e desejos.

Costumo dizer, inspirada em um grande psiquiatra infantil chamado Winnicott, que na terapia, duas pessoas brincam juntas. Ele dizia que a terapia é a “sobreposição de duas áreas do brincar, a do paciente e a do terapeuta. Assim, a psicoterapia trata de duas pessoas que brincam juntas”. Apesar de uma atividade divertida, esse é um encontro cheio de significado, onde a criança pode experimentar novas formas de ser, se sentir compreendida e começar a transformar suas dores em algo mais leve.

Esse espaço é construído com muito respeito, paciência e escuta. 

É uma forma de dizer: “estou aqui com você, sem pressa, pronto para te ouvir mesmo quando você ainda não sabe dizer”. A terapia infantil nos ajuda a olhar para a criança como um todo — suas emoções, seus comportamentos e o que está por trás deles.

Que questões podemos trabalhar na terapia Infantil?

A terapia pode ajudar crianças em muitas situações, como por exemplo:

• Dificuldades emocionais (tristeza, ansiedade, medos, raiva excessiva)

• Mudanças familiares (divórcio dos pais, nascimento de irmãos, luto)

• Problemas escolares (dificuldades de aprendizagem, concentração, bullying)

• Dificuldades de relacionamento (com os pais, irmãos ou colegas)

• Baixa autoestima ou insegurança

• Comportamentos repetitivos ou desafiadores

• Situações traumáticas ou experiências difíceis

Mais do que tratar “problemas”, a terapia fortalece a saúde emocional da criança e cria espaço para que ela cresça mais conectada com quem é e com quem deseja ser.

Uma oportunidade de reencontro com o essencial

Vivemos em um mundo que muitas vezes nos afasta da nossa própria essência — daquilo que realmente sentimos e queremos. As crianças também sentem isso. Elas podem se desconectar do seu “centro” quando não conseguem expressar o que vivem por dentro.

O psicólogo Amatuzzi fala que esse centro — o coração — é onde nascem os sentimentos, pensamentos e decisões. Quando algo se quebra aí dentro, a criança pode se tornar mais rígida, mais distante de si mesma. A terapia é uma oportunidade de reconectar essa criança com seu mundo interno, com sua alegria de viver, com sua espontaneidade.

Quando o processo terapêutico com uma criança começa, a família toda vai ser afetada… por isso cabe ao psicólogo ser muito atento aos movimentos que interferem na criança.

Um processo de crescimento

Como terapeuta, nem sempre sou eu quem vê os frutos da transformação. Às vezes, planto só uma semente que só vai florescer mais tarde. O mais importante é que sempre é a própria criança quem vai colher os benefícios mais importantes: ela aprende a confiar em si, a nomear o que sente, a criar caminhos e recursos próprios para lidar com os seus desafios.

Nosso papel é acompanhar e cuidar do campo emocional da criança, oferecendo um ambiente fértil para que ela se desenvolva — mas sempre respeitando seu próprio ritmo e suas escolhas. Toda pessoa tende ao crescimento quando se sente verdadeiramente aceita e compreendida.

A terapia infantil é, acima de tudo, um espaço de cuidado, escuta e esperança. Um lugar onde a criança pode ser ela mesma — e, aos poucos, descobrir novas formas de viver, sentir e se expressar com mais harmonia.