Quando um pai ou uma mãe diz “eu te amo”, mas ao mesmo tempo fala mal, desrespeita ou destrói o outro genitor na frente da criança, o que se quebra não é só a imagem do ex-parceiro — é a base emocional do filho.
Durante o divórcio, é natural que existam mágoas, raiva e frustrações. Mas quando esses sentimentos passam a dominar a relação entre os pais, a criança fica presa num campo de batalha emocional que não é dela.
Ela começa a se perguntar:
“Como posso amar meu pai se minha mãe o odeia?”
“Como posso amar minha mãe se meu pai fala tão mal dela?”
Esse tipo de dilema parte o coração. A criança sente culpa por amar quem o outro rejeita, vergonha por querer estar com um e medo de magoar o outro. Vive em alerta o tempo todo, tentando não desagradar, tentando não escolher.
O lar, que deveria ser o lugar mais seguro do mundo, vira um território instável — onde cada palavra, cada silêncio e até um simples olhar podem acender a hostilidade.
Nessa tensão constante, o corpo aprende que o amor é perigoso. E o sistema nervoso se acostuma à guerra.
Mais tarde, esse padrão se repete nas relações adultas: dificuldade em confiar, medo de conflitos, sensação de estar sempre pisando em ovos.
Quando uma criança é forçada a escolher entre dois amores que deveriam coexistir, nasce o que chamamos de trauma relacional. Ela não consegue escolher, então guarda o conflito dentro de si. Cresce sem saber o que é calma — porque aprendeu que amar é estar em guerra.
Amar um filho enquanto se odeia o outro genitor não é proteger.
É ensinar que o amor vem junto com dor, que paz é algo raro, que carinho é algo que se ganha — e não um direito.
O resultado são adultos que confundem lealdade com sofrimento, que acham que amor precisa doer, e que repetem, sem perceber, o mesmo ciclo que um dia os feriu.
Dar amor não basta.
Se o amor vem cheio de rancor e desrespeito, ele deixa de nutrir e começa a ferir. E é nesse solo machucado que nasce o trauma — o eco de algo que nunca deveria ter sido chamado de amor.
