Ser mediadora, para mim, é estar presente de forma sensível quando o amor muda de forma. Quando dois parceiros decidem se separar, mas desejam fazê-lo com respeito, dignidade e cuidado — principalmente quando há filhos envolvidos.
Com o tempo, percebi que mesmo as histórias mais simples carregam a densidade do que é mais difícil para todos nós: aceitar a impermanência dos vínculos amorosos. Existe uma dor quase universal em lidar com o fim de uma relação, e é justamente aí que a mediação revela sua força transformadora.
“A partida do outro é um momento difícil para qualquer um. A separação amorosa representa um verdadeiro desafio para quem a enfrenta: o de encontrar em si e em seu entorno os recursos para lidar com a ausência, o vazio e a perda do outro.”
(Van Hemelrijck, 2016, p. 85)
Ser mediadora é ocupar uma posição profundamente privilegiada, mesmo que frágil. É estar entre dois mundos: o da dor da perda e o da possibilidade de reconstrução. É testemunhar o fim de uma história sem precisar apagar tudo que foi vivido. É oferecer um espaço onde as pessoas possam se lembrar de quem são — mesmo após a ruptura — e onde possam tomar decisões importantes com mais clareza e menos conflito.
Ao longo dos anos, percebi que uma escuta neutra, respeitosa e empática tem o poder de transformar não só os acordos práticos, mas também a forma como os ex-parceiros continuam se relacionando como pais, ou mesmo como seres humanos. A mediação, nesse sentido, não é apenas técnica. Ela é sobretudo humana.
Acredito profundamente no valor dessa presença sensível — que se aproxima da dor sem tentar silenciá-la. Que ajuda a tornar visível o que está em jogo, mas também o que pode ser preservado: a cooperação, o cuidado, a integridade de cada um e o bem-estar das crianças, quando existem.
A mediação que desejo praticar é aquela que respeita os tempos, os silêncios e os limites. Que acolhe o sofrimento sem julgá-lo. Que cria uma ponte possível entre o passado que se encerra e o futuro que começa a se delinear.
Porque, mesmo quando o amor conjugal termina, ainda é possível continuar cuidando — de si, do outro, dos filhos, da história. E ser mediadora é justamente ajudar a tornar isso viável.